No final do mês de abril de 1812, o duque de Wellington tinha capturado com sucesso as duas fortalezas estratégicas de fronteira, Badajoz e Ciudad Rodrigo, controlando as duas principais estradas de ligação de Espanha a Portugal. Wellington estava pronto para avançar para o interior de Espanha à frente do maior exército que havia comandado até então, suficientemente forte para enfrentar qualquer dos exércitos franceses. A ameaça residia em dois exércitos franceses estacionados em Espanha: o Exército de Portugal, sob o comando de Marmont, na região de Salamanca, e o Exército do Sul, sob o comando de Soult, na região da Andaluzia. O rio Tejo separava estes dois exércitos.
As únicas pontes de travessia do Tejo encontravam-se em Toledo, Talavera, Arzobispo, Almaraz e Alcântara. Nesta última localidade a ponte tinha sido destruída pelos portugueses, sob o comando do Coronel Mayne, a 14 de maio de 1809, para impedir a sua utilização pelas forças francesas. Por seu turno, em Toledo, Talavera e Arzobispo a travessia do rio estava sob controlo francês, mas, de acordo com Napier, a margem esquerda do Tejo em Talavera e Arzobispo estava "tão próxima das faldas acidentadas da Serra de Guadalupe, que se poderia considerar como intransitável para um exército". Qualquer coluna de artilharia e de bagagem pesada movendo-se entre os dois exércitos teria sempre de fazer a travessia em Toledo ou Almaraz.
A Batalha de Almaraz 1812
Desdobramento dos regimentos. Nota: 4 batalhões portugueses dos 6º e 18º regimentos de linha não estão representados na coluna central
Esta última ponte, construída pelo Imperador Carlos I no século XVI, e conhecida pela população local como Ponte de Albalat, tinha sido parcialmente destruída pelos espanhóis, a 14 de março de 1809 para impedir a sua utilização pelos franceses, tal como a ponte de Alcântara atrás referida. Uma ponte flutuante, com cerca de 200 metros de comprimento, foi construída com pontões pesados pelos franceses no outono de 1809, a oeste da ponte Albalat. O vão central era um barco ligeiro, projetado para ser removido à noite por segurança.
Uma pequena força foi destacada para atacar, sob o comando do General Rowland Hill, esta ponte flutuante sobre o Tejo. Composta por cerca de 6.000 homens com nove canhões, esta força era praticamente a mesma que tinha surpreendido Girard em Arroyo de los Molinos em 1811. A tarefa de Hill era considerável, pois a ponte flutuante era protegida em ambas as margens por robustas fortificações.
A extremidade sul deste dispositivo construído pelos franceses era protegida por uma cabeça de ponte dominada pelo designado Forte Napoleão. Este forte, com capacidade para 450 homens, estava situado no topo de uma colina acessível apenas por um aterro íngreme. Não era, no entanto, uma escalada difícil para as forças apeadas atacantes, e a entrada no forte era um pouco facilitada por duas grandes escarpas, semelhantes a degraus, que conduziam às muralhas do forte. A parte traseira do forte descia até à cabeça de ponte e era protegida por uma vala com paliçadas e uma torre com orifícios circulares que funcionava como o último local de refúgio caso os homens de Hill conseguissem entrar no forte.
Na margem norte do Tejo ficava o Forte Ragusa, onde estavam armazenados todos os mantimentos e munições da guarnição. Este forte pentagonal também possuía uma torre de oito metros de altura com orifícios circulares, que seria o último local de defesa. Adicionalmente um campo de obstáculos próximo da ponte protegia o forte.
Os franceses tinham fortalecido, ainda mais, a defesa da ponte, protegendo a estrada principal de Trujillo num ponto a cerca de dez quilómetros para Sul. Neste local, onde a estrada sobe a Sierra de Mirabete, a passagem era controlada por um castelo à volta do qual os franceses construíram uma muralha de quatro metros de altura, que protegia uma posição para oito canhões. A ligação deste forte a uma pequena fortificação localizada perto da estrada, era garantida por duas posições fortificadas, os Fortes Colbert e Senarmont. As montanhas eram intransitáveis a qualquer veículo com rodas e a única alternativa de passagem pelas montanhas, o desfiladeiro de La Cueva, ficava três quilómetros a leste de Mirabete. Por outro lado, a estrada do lado sul das montanhas era transitável para veículos, mas após a passagem de La Cueva tornava-se em pouco mais que uma trilha.
O plano de Hill consistia em dividir a sua força em três colunas. A primeira, a Oeste, sob o comando do General Chowne, era composta pelos batalhões dos regimentos 28th e 34th e o batalhão de Caçadores 6 português, com a missão de assaltar o castelo de Mirabete. A segunda coluna, central, constituída pelos quatro batalhões dos regimentos de infantaria de linha nº 6 e nº 18 portugueses com toda a artilharia deveria progredir ao longo da estrada principal com o objetivo de atacar as obras de defesa sobre a passagem de Mirabete. A terceira coluna, a Este, comandada pelo próprio Hill, composta pela brigada Howard, que integrava os batalhões dos regimentos 50th, 71st, e 92nd e uma companhia do 5/60th, deveria subir a estrada que passava pela passagem de La Cueva e aproximar-se de Almaraz pelo caminho. As três colunas iniciaram os seus movimentos ao anoitecer de 16 de maio, mas ao amanhecer estavam todas ainda longe dos seus objetivos, devido à natureza acidentada do terreno.
Placa ao ado da ponte de Almaraz
Estava claro para Hill que havia poucas hipóteses de obter efeito de surpresa sobre a guarnição francesa na defesa da ponte e, portanto, ele procurou atravessar as montanhas com a artilharia. A guarnição francesa ainda não tinha detetado os movimentos das forças aliadas e Hill convenceu-se que poderia ser bem sucedido se atacasse, o Forte Napoleão e a ponte, usando apenas a infantaria.
Na noite de 18 de maio, a brigada de Howard, reforçada pelos Caçadores portugueses, transpôs a passagem de La Cueva. Durante a madrugada de 19 de maio as primeiras forças de Hill tinham-se aproximado a uma distancia de apenas 800 metros do Forte Napoleão, mas com a claridade da manhã as colunas subsequentes foram detetadas na travessia da montanha. A guarnição do Forte Napoleão, comandada pelo Major Aubert, foi alertada e os dois barcos centrais da ponte flutuante foram removidos.
A operação de ataque à ponte tinha começado já nessa madrugada de 19 de maio, quando os canhões da artilharia do general Chowne abriram fogo contra o castelo de Mirabete, 6 quilómetros a sul do Rio. Os defensores da ponte, avisados da possibilidade da presença de tropas de Hill, estavam em estado de alerta para um eventual ataque, mas foram surpreendidos quando o 50th e parte do 71st saíram da sua posição coberta e avançaram em direção ao forte sob o fogo cruzado vindo do contingente que defendia o Forte Napoleão e das armas de Forte Ragusa. A força de assalto inglesa foi fustigada enquanto avançava, mas alguns elementos alcançaram o topo da colina e lançaram as escadas de assalto contra a escarpa. Os homens da frente subiram o primeiro dos dois degraus e colocaram as escadas na vertical. Os infantes subiram pelas escadas, atingindo o topo dos muros defensivos, e iniciaram desde logo uma luta corpo-a-corpo com a defesa francesa ao longo das muralhas.
O primeiro a subir as escadas de assalto foi o capitão Candler do 50th, que saltou sobre o parapeito, mas foi atingido de imediato por várias balas de mosquete francesas. Os seus homens seguiram-no e os franceses começaram a recuar para a cabeça de ponte. O comandante do forte, General Aubert, recusou-se a retirar e lutou corajosamente. Rejeitou mesmo uma proposta de rendição, acabando trespassado pela baioneta de um sargento do 50th. As tropas francesas tentaram proteger-se dentro da torre, mas acabaram por se render. Os canhões do Forte Ragusa, a Norte do Rio, não conseguiam disparar com receio de atingir os próprios homens, que fugiam em direção do rio.
A guarnição da cabeça de ponte retirou igualmente através da ponte flutuante. Os canhões de Forte Ragusa ainda fizeram alguns disparos contra as forças assaltantes no Forte Napoleão, mas apenas até receberem fogo de resposta dos canhões capturados por Hill. A ação tinha durado apenas quarenta minutos. Quatro granadeiros do 92th nadaram até à margem norte do rio por baixo na Forte Ragusa e trouxeram alguns barcos para reparar a ponte flutuante. A restante força de Hill aproximou-se do rio e confirmou o abandono das fortificações, em ambos os lados do rio, por parte dos franceses. Hill determinou que essas fortificações fossem explodidas e a ponte flutuante queimada.
O castelo de Mirabete permaneceu em mãos francesas, pois William Erskine espalhou o boato de que toda a força de Soult se estava aproximando do Sul. Hill, que pretendia demolir o castelo, acabou por se retirar apressadamente em direção a Trujillo, perdendo a hipótese de obter um sucesso total. O raide na ponte de Almaraz tinha feito 33 mortos e 148 feridos nas forças britânicas, dos quais 28 mortos e 110 feridos pertenciam ao 50th. As perdas francesas foram estimadas em cerca de 400, nas quais se incluem 259 prisioneiros.
No ano seguinte, em 1813, o duque de Wellington enviou o tenente-coronel Henry Sturgeon, do Royal Staff Corps, para preparar uma travessia do rio no local de Almaraz. Foi construída uma ponte suspensa, semelhante à que tinha sido construída em Alcântara. A ponte atual foi construída entre 1841 e 1845.
Esta acção permitiu manter os exércitos franceses separados, conduzindo ao grande sucesso da Batalha de Salamanca, em julho de 1812.